segunda-feira, 11 de junho de 2012

Trânsito, até quando?

Recordes de tráfego nas vias se superam semanalmente, por greve, por chuva, na verdade simplesmente por excesso de veiculos e falta de planejamento urbano. Solução em vista? Redução do IPI para os automóveis, ou seja, que se lasque o trânsito absurdo, vamos enfiar mais carro onde não cabe, para manter o emprego da industria automobilistica, será que não dá para mudar nada?

 
Trânsito Noturno em Sampa

Bom eu acho que sim e tenho algumas idéias, sei que muitos tem alguma sugestão. Tive uma palestra da FVG há alguns anos, sobre inovação, em que se sugeriu que quem deveria se responsabilizar pelas sugestões e ações eram as próprias fabricantes, quer vender mais carro, me fala como vai rodar a cidade e pode. Acho que todas idéias, inclusive essa, deveriam ser analisadas, pois alguma mudança é necessária. 

Primeiro ponto é a necessidade de melhoria e ampliação do transporte público, mas não essa que temos hoje que corre atrás do rabo tentando sanar problemas por falta de ações do passado, mas parar e definir como será daqui a 20 anos, migração para melhor distribuição demográfica, integração entre cidade via trens, onde ficarão as zonas comerciais, residenciais, como serão as linhas de metrô e trabalhar pensando no futuro, ações essa de longo prazo e de resultados consistentes quando acontecerem, não como fazemos agora que se mantiver a bagunça e não aumentar está valendo.


Ainda assim o mais importante é o que faremos para curto e médio prazo?

Primeiro só com benefícios financeiros alguém se move, logo o governo deve abrir mão de alguns tributos, já que consome os mesmos para manter essa máquina velha e ineficiente, que "vaza" pelas juntas, para que as industrias migrem de perto dos grandes centros.

Primeiro Nível
O governo de SP quer manter a Chevrolet aqui, que leve para uma cidade do interior como Marilia, bem longe mesmo, que o governo disponibilize CIDs para que se estabeleça a fábrica lá e que façam casas de boa qualidade, 3 quartos, com 150m2, no valor de uns R$ 60 mil e financiamento de 30 anos para quem se mudar para lá, contrato de trabalho de 5 anos mínimo e vamos encher a cidade de gente, gerar uma nova micro economia etc.
Beneficio fiscal para empresas que tem fretado para os funcionários e para empresas que permitem trabalho em regime home office, desde que mantendo os custos que o funcionário terá por trabalhar de casa.

Segundo Nível
O governo estadual não se mexeu, o governo federal depois de um periodo para que o estado tome as providencias cabíveis assume essa responsabilidade e faz o mesmo mandando para Rio Branco, Cuiabá, Palmas, Campo Grande, Boa Vista etc, efeito colateral é o aumento de demanda em serviços para essas novas regiões e investimentos que nunca são feitos como energia e telecomunicações passarão a ser mais que necessarias, serão interessantes e viáveis economicamente.

Vamos renovar a frota
Carro na rua só até 15 anos após a fabricação, tem um carro de 15 anos e precisa trocar, isenção total do IPI e linha de financiamento especial para facilitar na compra. A receptora é responsável por sucatear o veiculo.
Colecionadores tem que mudar o registro do seu carro para carro de colecionador e só pode circular em horário específico como finais de semana, feriados e fora dos horários de pico.

São algumas idéias que pelo que vejo de decisões do governo para Copa por exemplo, totalmente factíveis, quando veremos se discutirem essas idéias e melhoras no problema ainda crescente do tráfego nas grandes cidades?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Férias, mais que um evento, um estado de espírito

Depois de quase 3 anos vou tirar férias de verdade, me desligar do mundo, sair tranquilo por 3 semanas, sem olhar para trás.
Nestes 3 anos fui aprendendo como quando a empresa não ajuda com uma situação certinha, com processos razoáveis, fico preso a culpa e responsabilidade de ver as coisas acontecendo e não consegui e nem me permiti descansar de verdade ou passar para outras pessoas, assuntos críticos e que por essa falta de processos etc, nem eu sabia como fazer. Descobri neste tempo que muitos dos processos nem existiam e como imaginei por um bom tempo que eu que não conseguia mapeá-los pedi ajuda e quando vi que tinham que serem feitos ainda, fiquei mais tranquilo!

Logo, agora o meu sono passava a depender do meu esforço, trabalho e comprometimento, nem pensei que em um futuro não muito distante, minhas férias também.
Neste meio tempo todas as pessoas próximas se veem na mesma situação e a colaboração que se vê na cumplicidade de interesses é muito produtiva e aos poucos, vamos colocando o barco no curso do rio.

E mais que sair de férias é a esperança ou o anseio de que na volta essa caminhada continue, que as melhoras internas e nos negócios avancem, se possível ainda mais célere, e isso eu já não sentia há muito tempo.

Hoje ao findar do dia entro em férias, mas sei que além de tudo, do descanso, da viagem, vai ter a tranquilidade, e isso é muito gratificante!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Até que ponto a culpa é da Zara???

Assim como o mercado de produção agrícola, o de vestuário é composto por milhares de pequenos produtores congregados em uma cooperativa ou atrelado a um grande distribuidor. Acho temerária a reação contra a Zara sem avaliação da real responsabilidade dela, pois é impossível gerir toda a cadeia, com toda certeza ela sozinha não justificaria tantos bolivianos nessa situação. Esse trabalho do MP e da Polícia Federal tem que ser bem profundo e ver se há responsabilidade, havendo deve-se punir exemplarmente e quais outras marcas e quais distribuidoras estão por trás disso.

Acho muito oba oba a necessidade de se punir para passar a raiva que todos sentimos ao assistir a matéria de "A Liga".

A matéria foi excelente, totalmente pautada em fatos, com esclarecimentos sobre os conceitos, as ações e as consequências.

A advogada da Zara foi muito infeliz por não ter ido preparada para uma entrevista. A secretaria da educação foi ainda pior falando via nota, mostrando a distância com a gestão de sua responsabilidade e sua falta de preocupação com o dinheiro público, destinado a empresas ilícitas, pois não cumprem exigências legais, embora tenham toda uma papelada para os respaldar.

Uma matéria do Estadão de hoje mostra que além da Zara, C&A, Marisa e Pernambucanas também sofrem acusações de trabalho escravo.
Ver no link

Portanto sejamos prudentes na atitude, mas vigilantes, para que esse tipo de crime contra o ser humano não mais ocorra.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Esporte e política: nada a ver...

Estamos vendo o orgulho do esporte nacional com Olimpiada de 2016 no Rio de Janeiro e a Copa 2014 no Brasil, o que é ridículo, muito desvio de verba antes mesmo de começar qualquer obra, em um país que usa o esporte só como massa de manobra, onde não existem políticas públicas, para usar o esporte como saúde e lazer.

Um grande exemplo é a palhaçada destes jogos mundiais militares no Rio, com as delegações chamando civis, que não sabem nada sobre forças armadas para representar o Brasil e tentar medalhas, uma vergonha, para mim isso é trapaça, mesmo que outros países façam o mesmo. Se vamos organizar um campeonato do prédio, não faz sentido chamar outros amigos para "morar" aqui em casa até o fim do torneio. Pior 10.000 policiais garantem a segurança do evento composto por exército, marinha e aeronáuticas do mundo todo, se ele precisam de ajuda, Deus nos guarde....

Quanto as olimpiadas, o Brasil foi sede do PAN de 2007, consumiu 7 bilhões de reais e tudo não servirá para as olimpíadas... O orçamento inicial era inferior a R$ 1 bi, agora é de R$ 30 bi.

Para a copa o orçamento atual do Brasil é maior que das últimas 3 copas juntas e se aumentar, pode ser a soma de todas na história, o que realmente será um feito, mesmo se tratando do governo brasileiro.
O Maracanão que teve reforma de R$ 300 milhões para o PAN de 2007, não atendia a nada do que pede a FIFA e passará por uma reforma orçada até agora em R$ 1,3 bilhões...
Brasília quer um estádio para 70 mil calangos, mas terá que encher de todos os bichos da região para justificar, Recife um estádio longe da população sendo que os seus 3 grandes tem estádio que os atende hoje e muitas mais, aqui em SP a paranóia do Corinthians ganho apoio público e deve vingar, em uma cidade que tem o Pacaembu no meio da cidade, fácil de chegar e amado pela torcida...

Resumindo, torci contra que os eventos fossem aqui pois não temos como nos defender desses absurdos, ainda mais quando o Ricardo Teixeira, um bandido renomado e com ressalvas até no país que nada vê, a Suiça, é o organizador da copa, que será vigiado de perto pelos bandidos, envolvidos nos escândalos mais recentes, do PR

Deus nos ajude!!! E nós o que vamos fazer?????????

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Brincadeira do Dia

Em meio ao cotidiano, as regras, aos processos, ficamos condicionados ao nossos costumes e idéias, reféns da nossa zona de conforto.
Mudar, inovar, quebrar protocólos, regras e paradigmas são nossos sonhos, ao mesmo tempo que tememos pelo que isso pode trazer em troca ou pior, mesmos decididos. deixamos para amanhã...
Eu um dia pensei que trabalhar em casa, ainda mais em um trânsito como o de sampa fosse boa idéia, mas aí até as conversas de corredor, a correria dos pepinos do dia se foram, me vi em meio a um cotidiano quase que inquebrável. Por exemplo, se acabou o expediente ou quero parar por uma hora eu acabo jogando video game ou vou no facebook, sempre igual até que...

O Arthur nasceu!!!! E eu nunca imaginei o que ter um filho seria e entendi o que é ser filho, mas por que esse papo inicial???

Simples até hoje com pouco mais de 9 meses os dias não se repetem, os horários são confusos, um dia dorme muito, outro dia não quer dormir e adeus cotidiano.
É raro ele rir da mesma brincadeira em no dia seguinte, se ele gostou brinco até cansarmos para me deliciar com sua gargalhada, pois sei que depois preciso descobrir algo novo, preciso ser criativo sempre para ter essa recompensa. Isso chamamos da "Brincadeira do Dia", tão gostosa quanto rápida!
Para conseguir trocá-lo em paz preciso distraí-lo, ele precisa querer ficar me olhando, caso contrário vai ser dose, ele tentando fugir e vc com pomada na mão sujando tudo, isso quando é pomada.

Cada dia ele faz algo novo, senta. levanta, começa a te imitar, entender o que vai acontecer quando dizemos algumas coisas, os primeiros passinhos (estamos nessa parte agora) e as primeiras palavras etc etc

E cada um desses marcos nos deixam muito felizes, nos realizamos nele, agora entendo muita coisa que meus pais passaram e fizeram por nós e sou muito grato e espero ser bom o bastante para que o 220 (meu apelido para o Arthur) sinta o mesmo por mim um dia.

E o melhor de tudo é aprender com um menininho de 9 meses com guinar minha vida, o que fazer para ela ser melhor, para que eu seja mais feliz, obrigado filho!!!

Lógico que ainda tem coisas que deixo para amanhã, vide exercícios físicos, mas tudo bem!

Bjs e abs a todos

Raffa

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Batismo e seus significados

Um momento emocionante que vivemos a alguns meses foi o batismo do Arthur, juntar amigos e parentes em uma cerimonia cheia de significados e para minha surpresa, distintos para cada um.
Mas por que a surpresa? Era de se esperar certo? Sim, mas não lembrava das particularidades e por isso resolvi escrever sobre o assunto explicando um pouco do que é o Batismo e como algumas religiões o interpretam.

Primeiramente vale separar o que é crença (Teológico) e o que é natural (Antropológico).
O Batismo no sentido antropológico é a necessidade inata do ser humano de uma ligação com o divino e o Batismo é a figura dessa iniciação. Tipicamente de sangue mostra a força da ligação esperada. Desde da cultura egípcia e greco-romana, esses ritos foram registrados e é uma marco fundamental para essas culturas, a idade varia, alguns na infância, outros na idade adulta. As tribos indígenas tem ritos similares ainda hoje e variam na idade como os antigos. Mas o importante é que o sentido é o mesmo e é o mesmo inclusive do que o teológico possui, mas ele é mais "livre".

No sentido teológico entretanto ele tem um significado secundário, além da ligação com Deus, existe uma mensagem atrelada.
O Batismo judaico é de sangue, é o primeiro cumprimento da Lei que o judeu vive, atendendo à circuncisão. A circuncisão é uma herança das culturas egípcias e grega, os mulçumanos também fazem.
No sentido de saúde a circuncisão é um higienizador natural, feito no 8 dia de nascimento e assim evitando doenças e outros problemas. Vale lembrar que Cristo foi cincuncisado conforme a Lei, acho que essa prática é saudável, apesar de eu não ter feito e nem meu filho.

João Batista ao batizar nas águas traz um outro sentido atrelado e algumas variações, no meu ver super valorizadas pelas denominações, mas entendo que secundário.
A água simboliza a vida e a passagem que mostra uma ligação de Deus com a água se encontra logo no principio de Gênesis 1:2 "A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas".
Deter a água era sinônimo de poder, era quase divino e quando se faz o Batismo nas águas é como se dar a vida, para alguns renovar.

O mais comum é o Batismo por asperção como fazem católicos e a maioria dos protestantes (exceto batistas), sendo simbólico o uso da água usando o derramamento como forma e em geral feito em crianças.
Aqui uma diferença grande de sentido entre católicos e protestantes aparece.
O católico entende que a criança antes de ser batizada não tem alma e essa ligação com o Deus que paira sobre as águas é que alimenta com a alma a criança.
Para o protestante o batismo é o compromisso dos pais com a sociedade de criar os filhos nos caminhos de Deus, nas veredas da Justiça e da Verdade.

Para os Batistas a conotação do batismo é uma reprodução do passado por Cristo, precisa ser por imersão e é feito quando o fiél decide estabelecer esse elo com Deus, no caso de católicos e outros protestantes esse compromisso se dá respectivamente na crisma e na profissão de fé.

Em suma todos são importantes e inerentes ao ser humano. Cada um com seu modo e forma representam um elo com Deus e para todos uma marca e um marco fundamental no desenvolvimento e evolução de cada um.
É importante respeitar a diferença e saber que todos tem um sentido, mas que a forma é menos importante que o fato.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

CARTA SOBRE A FELICIDADE (a Menescau) - de Epicuro

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.

Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

Acostuma-se à idéia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no momento, a maioria das pessoas a foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.

O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

Assim, como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.

Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.

Se ele diz isso com plena convicção, por que não se vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi um frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.

Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.

Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. de fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.

É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.

Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.

Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não é só conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temos as vicissitudes da sorte.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam as pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ele é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram
todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça sem felicidade. Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremos ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?

Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas; o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.

Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.

Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.

Epicuro *

Do livro: “Carta sobre Epicuro”, Editora Unesp, ed. bilíngue, grego/português, tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore, 1997, SP
Enviado por: Lau Siqueira
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* Epicuro nasceu em 341 a.C, na ilha grega de Samos.